Durante as últimas décadas, milhões de pessoas cresceram cercadas por consoles, computadores e jogos eletrônicos. Para muitos, o controle na mão e os mundos digitais na tela foram companheiros constantes na infância, adolescência e até na vida adulta. Com histórias cativantes, gráficos impressionantes e jogabilidade imersiva, os videogames ajudaram a moldar uma geração de jogadores apaixonados por desafios estratégicos, progressão e competição.
No entanto, nos últimos anos, um fenômeno curioso vem ganhando força: cada vez mais pessoas acostumadas ao universo digital estão se encantando com experiências analógicas. Os jogos de mesa presenciais, que antes eram vistos como algo ultrapassado ou limitado, voltaram com força total — agora com temas envolventes, mecânicas sofisticadas e componentes visualmente atrativos. E o mais interessante: muitos desses novos entusiastas vêm justamente do mundo dos videogames.
Neste artigo, vamos explorar por que pessoas que cresceram jogando videogame estão redescobrindo — e se apaixonando — pelos jogos de tabuleiro e cartas presenciais. Vamos entender o que motiva essa transição, quais elementos aproximam (ou diferenciam) essas duas formas de jogar e de que forma os jogos físicos têm preenchido um espaço que o digital, muitas vezes, não alcança. Se você é gamer e está curioso sobre o mundo dos jogos de mesa, ou apenas quer entender essa tendência, este texto é para você.
O que os jogadores de videogame buscam em experiências de jogo
Aqueles que cresceram jogando videogame tendem a desenvolver preferências claras em relação ao que esperam de uma experiência de jogo — e isso influencia diretamente o interesse crescente pelos jogos de mesa. Embora os formatos sejam diferentes, muitos elementos que encantam no digital também estão presentes (ou até mais aprimorados) no analógico.
Progressão, desafio e tomada de decisão significativa
Jogadores de videogame geralmente valorizam sistemas de progressão, seja por meio de níveis, habilidades, missões ou conquistas. Eles também apreciam desafios bem calibrados — jogos que testam seu raciocínio, planejamento e tomada de decisões. Jogos de mesa modernos respondem a isso com campanhas cooperativas, modos solo com árvore de evolução, sistemas de construção de motor (engine building), e até jogos legacy que evoluem a cada partida. Títulos como Gloomhaven, Clank! Legacy e Aeon’s End entregam experiências com profundidade estratégica e sensação de progresso semelhantes à de RPGs digitais.
Narrativas envolventes e mundos imersivos
Outro aspecto fundamental para os gamers é a imersão em histórias bem construídas. Desde aventuras épicas até dilemas morais, o enredo faz diferença na experiência digital. Nos jogos de mesa, essa narrativa surge através de campanhas narrativas, livros de história, escolhas ramificadas e mecânicas que fazem o jogador sentir que está moldando os acontecimentos. Jogos como Sleeping Gods, Near and Far e Destinies conquistam exatamente por isso — oferecem enredos envolventes com a vantagem de estarem sendo vividos em grupo e em tempo real, sem precisar de telas.
Interatividade e sensação de agência
Nos videogames, controlar o personagem, explorar cenários e manipular o mundo digital confere uma sensação clara de agência. Nos jogos de mesa modernos, isso se traduz na liberdade de ação tática, múltiplas rotas para vencer, construção de estratégias pessoais e na interação direta com outros jogadores. Em vez de seguir scripts pré-programados, os jogadores têm a chance de reagir ao que está acontecendo na hora, lidar com a imprevisibilidade do grupo e adaptar sua abordagem, algo muito valorizado por quem aprecia autonomia nos jogos.
Por que os jogos de mesa presenciais têm tanto apelo para essa geração digital
Mesmo em uma era dominada por tecnologia e conectividade, os jogos de mesa presenciais têm conquistado espaço entre pessoas que passaram boa parte da vida diante das telas. Isso acontece não por contraste, mas por complementaridade: os jogos analógicos oferecem algo que o digital muitas vezes não consegue reproduzir com a mesma intensidade — a conexão humana e o prazer do aqui e agora.
A experiência tátil e o prazer do físico
Após anos jogando com controle na mão ou clicando em interfaces digitais, muitos jogadores redescobrem o prazer do contato físico com componentes reais. Manusear cartas, mover peças pelo tabuleiro, abrir caixas ricamente produzidas… tudo isso oferece uma experiência sensorial que não depende de gráficos, mas de textura, peso e presença. Jogos como Wingspan, Everdell ou Flamecraft, com seus componentes caprichados, miniaturas detalhadas e arte encantadora, tornam o simples ato de jogar uma experiência estética e sensorial envolvente.
Interação social real, olho no olho
Enquanto jogos online oferecem comunicação por chat e voz, os jogos de mesa trazem de volta o riso compartilhado, os olhares cúmplices, as expressões de surpresa e a linguagem corporal. O “blefe” em um Coup, a negociação tensa em Catan ou a comemoração coletiva em uma vitória de The Crew só têm o mesmo peso quando ocorrem ao vivo, com pessoas reunidas ao redor da mesa. Esse aspecto social é cada vez mais valorizado por quem sente os efeitos da hiperconectividade e busca momentos autênticos com amigos e familiares.
Ritmo desacelerado e foco no presente
Jogos de mesa proporcionam um respiro em meio ao ritmo acelerado das experiências digitais. Eles exigem atenção plena, paciência e envolvimento com o grupo. Diferente dos jogos eletrônicos, que podem estimular ações rápidas e estímulos constantes, os jogos de tabuleiro convidam à contemplação, ao raciocínio e à pausa — algo muito atrativo para quem busca equilíbrio mental e quer fugir da sobrecarga sensorial das telas. Não é raro que uma sessão de jogo se transforme em uma tarde inteira de conversas, descobertas e memórias.
Jogos recomendados para quem vem do mundo dos videogames e quer conhecer os jogos de mesa presenciais
Para quem cresceu jogando videogame, migrar para o universo dos jogos de mesa pode ser uma transição muito natural — especialmente se os títulos escolhidos tiverem elementos familiares, como narrativa, progressão, estratégia ou cooperação. Pensando nisso, selecionamos jogos que podem funcionar como uma ponte ideal entre os dois mundos.
Jogos com progressão, narrativa e imersão
Jogadores acostumados a campanhas, evolução de personagens e mundos ricos vão se sentir em casa com jogos que oferecem experiências semelhantes. Alguns ótimos exemplos são:
Gloomhaven: Jaws of the Lion – Uma porta de entrada para o universo Gloomhaven, com missões cooperativas, evolução de personagens e combates táticos. Perfeito para fãs de RPGs e jogos de estratégia como Final Fantasy Tactics ou Fire Emblem.
Sleeping Gods – Um jogo de exploração em mundo aberto com decisões narrativas ramificadas. Ideal para quem adora narrativas envolventes e a sensação de descoberta contínua, como em The Legend of Zelda.
Destinies – Mistura tabuleiro e aplicativo para entregar uma aventura solo ou cooperativa com objetivos ocultos. Traz um clima de The Witcher com mecânicas de RPG e exploração.
Jogos com mecânicas estratégicas e competitivas
Se você cresceu jogando Starcraft, Civilization ou Age of Empires, jogos com planejamento, gerenciamento de recursos e controle de território vão parecer familiares. Algumas boas opções:
Scythe – Estratégia profunda com múltiplos caminhos para a vitória, ambientado em um mundo alternativo dieselpunk. Ótimo para quem gosta de estratégia com estética envolvente.
Terraforming Mars – Jogadores competem para tornar Marte habitável, utilizando cartas com efeitos variados. A progressão tecnológica e a corrida por pontos remetem a jogos como SimCity e Sid Meier’s Civilization.
Root – Combina guerra assimétrica, controle de área e construção de motor. Indicado para quem gosta de dominar sistemas complexos com facções distintas — uma experiência que lembra RTS multiplayer.
Jogos cooperativos e de ação compartilhada
Muitos jogadores de videogame gostam de experiências em grupo e cooperação para enfrentar desafios — como em Left 4 Dead, Overcooked ou It Takes Two. Há jogos de tabuleiro perfeitos para esse perfil:
The Crew: Missão Deep Sea – Um jogo de vaza cooperativo com comunicação limitada e missões progressivas. Ideal para grupos que gostam de resolver desafios em conjunto.
Pandemic – Clássico cooperativo onde os jogadores enfrentam surtos globais e precisam coordenar ações para salvar o mundo. É tenso, desafiador e ótimo para fãs de estratégia cooperativa.
Flash Point: Fire Rescue – Uma alternativa temática ao Pandemic, com foco em resgatar pessoas de um prédio em chamas. Mais direto e visual, funciona bem com jogadores que gostam de ação tática.
Esses jogos são apenas alguns exemplos entre centenas que podem cativar quem vem do mundo dos videogames. A familiaridade com certas mecânicas, a estética imersiva e a possibilidade de evolução dentro do jogo tornam a transição não apenas fácil, mas extremamente prazerosa. Ao encontrar os jogos certos, muitos jogadores digitais descobrem uma nova paixão — analógica, tátil e incrivelmente social.
A convivência entre os dois mundos e como eles se complementam na rotina de quem joga
Ao contrário do que muitos pensam, videogames e jogos de mesa não precisam disputar espaço no tempo livre de quem gosta de jogar. Na verdade, eles podem se complementar perfeitamente — oferecendo experiências distintas, mas igualmente valiosas, dependendo do momento, do humor e da companhia.
Ritmos e propósitos diferentes para momentos distintos
Videogames costumam ser mais acessíveis em termos de logística: basta ligar um console, abrir um aplicativo e jogar sozinho ou online. Isso os torna ideais para momentos mais introspectivos ou para quem tem pouco tempo disponível.
Jogos de mesa, por outro lado, exigem a presença física das pessoas, o que faz deles excelentes catalisadores de encontros sociais. São perfeitos para finais de semana com amigos, noites em família ou até encontros casuais que se tornam mais divertidos com uma partida no meio.
Essa diferença de ritmo permite que ambos coexistam de forma harmônica. Muitos jogadores se veem alternando entre o controle e o tabuleiro de acordo com o clima do dia — e essa alternância pode enriquecer ainda mais a experiência lúdica.
O perfil de jogador híbrido e o crescimento da cultura multiformato
Hoje, cada vez mais pessoas se consideram jogadores híbridos: transitam entre o digital e o físico com naturalidade, sem precisar escolher um lado. Isso reflete uma mudança cultural, onde o jogo não é mais definido apenas pelo meio, mas pelo tipo de experiência que ele proporciona.
Há dias em que a imersão de uma campanha em um RPG digital é o que mais atrai. Em outros, é a construção coletiva de uma partida de Root ou o riso despretensioso em um UNO com amigos que faz mais sentido. E isso é ótimo: quanto mais repertório lúdico, mais possibilidades para se divertir, relaxar e se conectar com os outros.
O mercado já entendeu isso também. Muitos jogos de mesa contam com versões digitais — e vice-versa —, ampliando o acesso e permitindo que o jogador escolha o formato que melhor se adapta ao momento.
O Veredito
O reencontro de muitos adultos com os jogos de mesa presenciais, depois de uma infância ou adolescência marcada pelos videogames, não é apenas uma tendência nostálgica — é um reflexo do desejo de reconexão. Conexão com os outros, com o tempo presente, com o prazer simples de rir, disputar e colaborar ao redor de uma mesa.
Se os videogames moldaram uma geração com seu dinamismo, desafios e imersão digital, os jogos físicos estão mostrando que o universo analógico ainda tem muito a oferecer — especialmente em termos de presença real, interação direta e experiências que fortalecem laços de forma natural e divertida.
Para quem cresceu entre fases, chefes e conquistas online, descobrir (ou redescobrir) o universo dos jogos de mesa é abrir espaço para outro tipo de envolvimento: mais humano, mais próximo, mais sensorial. E o melhor: não é preciso escolher entre um ou outro. Você pode muito bem viver os dois mundos — e talvez até misturá-los.
✨ Agora queremos saber de você:
Você cresceu jogando videogames e hoje se vê cada vez mais apaixonado pelos jogos de tabuleiro? Qual foi a sua transição favorita — ou o jogo que te fez olhar para a mesa com outros olhos?
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🎮➡️🎲 Porque, no fim das contas, jogar é só o começo.